“ Sao segredos mudos na boca calada... sao labios esperando os teus. ”

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A noite de Palmela


Queria escrever-te sobre o espaço contínuo, trémulo, mísero e que provoca dor.
Tu sabes de que falo quando o siLêncio se impõe entre os nossos corpos sós. É por ser noite dentro das pálpebras
e se ouvirem vozes caiadas de deserto fora da pele! Hoje irei sonhar: Haverá um corpo, o meu, no sexto andar de
uma casa, inacabada como a vida que desfaço. Lá dentro, uma sala rectangular com um candeeiro preto ao meio da sala,
ao canto superior esquerdo uma mesa de jantar, do lado completamento oposto uma Tv que sonhará como nós em ter uma
vida eterna. Cá dentro, do lado esquerdo, espreito pela janela, estou em cima do colchão, falta-lhe ar, assim como
a mim me falta a felicidade quando não me encontro aqui. Ao fundo uma porta aberta, sempre aberta, para lá da porta
da sala, o tecto branco, as paredes brancas, ao centro estavas tu, de olhar suspenso a espera do momento tão
esperado, parecias uma poeta que eu conheço, uma que as vezes para nos meu sonhos e fica a recitar poesia a noite
toda. Mas hoje, não é noite de dormir, irá fazer-se magia, do lado esquerdo temos a baixa da cidade de palmela,
pessoas em movimentos circulares, numa azáfama aquelas horas da noite. O "quarto" não tinha cama, o pavimento era
uma alcatifa preta, semelhante a um tapete tradicional. Fechou-se a luz, às vezes o texto era invadido por
sombreados brancos, cinzentos ou pretos que se deslocavam lentamente consoante a precipitação que se fazia sentir
no momento. Os afectos vinham com o vento, davam a volta aquela divisão e sentavam-se, normalmente nos ombros
do poeta, a cantar!. Esta casa, inacabada, havia há muito tempo, visitar-me em sonhos, trazia com ela lembranças
que eu próprio não conhecia e sabia que ia viver, em albuns velhos, escondidos dentro das paredes, cicatrizes
no coração. Sempre gostei destes sonhos, os meus olhos sempre foram uma estátua de olhar suspenso, a recitar
poesia para uma casa, uma casa que nunca tive, pelo menos que me lembre, uma casa habitável com familia de
verdade. A minha, presente, longe de pessoas, na costumeira pressa de correr com a vida, ou então não vida.
Hoje sim, vem o tempo em que pinto os sonhos com a mesma facilidade com que como expressões fúteis todos dias! Simples
como dizer um adeus ou um olá. Sou um conceito mudo, engolo gritos encarcerados entre as mãos de quem pouco sabe.
Hoje, reatei os afectos, e subtilmente entrei na vida com que serei capaz de construir um futuro, suficientemente
devagar para ser prazeroso. Era escravo da amargura, hoje, sou leve e ténue como um pó de mágia.

Hoje foi a primeira vez, hoje foi a primeira de muitas noites a teu lado, um futuro a dois, e ainda uma história
por contar....

São meras palavras que servem de casulo a minha saúdade,
de quem te ama, e sente que o tempo vem de longe,
Ricardo Costa